quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Navegar é preciso

LEVY, Pierre.Cibercultura.São Paulo: Editora 34, 1999. 260p.
Tradução de Carlos Irineu da Costa

Pierre Levy é um filosofo da informação nascido na Tunísia em 1956.Suas obras estudam a interação entre internet e sociedade.Destre elas podemos citar O que é o Vitual(1996), A Inteligencia coletiva:por uma antropologia do ciberespaço(2000), As Árvores do conhecimento(1995), e Cibercultura (1999).

Neste último, produzido originalmente como um relátorio para o Conselho Europeu , o autor propõe uma análise de como fatopres sociais, culturais e tecnicos influenciam no desenvolvimento do ciberespaço e vice versa, além de estabelecer alguns conceitos.
A obra é dividida em tres partes.Na primeira, Levy estabelece conceitos como digital , virtual, ciberespaço e cibercultura.Nesta parte do texto o autor também demonstra como técnica , cultura e sociedade são interdependentes, precisam ser estudadas se quisermos compreender o fenomeno da cibercultura. O autor revela que a tecnologia não é um fator determinante ou condicionante da sociedade, na medidada em que outras variáveis estão envolvidas nas decisões do que será realmente utilizado e como.Neste capitulo tambem o autor apresenta a noção de inteligencia coletiva ou o produto gerado a partir dos modos de cooperação utilizados na apropriação e produção do conhecimento.Esta cooperação acontece em virtude das técnicas disponíveis, que concorrem para a criação de textos com espaços de interação. Uma outra noção importante de ser compreendida no estudo do ciberespaço é a de universalidade, que se refere não apenas a todo conjunto humano, mas também por ser impossível de reconstituído, totalizado

A noção de texto e a mudanças decorrentes do surgimento da escrita são tratadas na segunda parte do texto, que traz as implicações da noção de cibercultura e ciberespaço na produção cultural e na educação.Fazendo uma analogia entre a passagem da cultura oral para do surgimento da escrita com o momento atual, o autor demonstra que ao possibiltar o compartilhamento de um contexto comum o ciberespaço retoma um das características da oralidade.O que parece crucial nesta parte do texto é compreender que o fazer artístico já não é o mesmo, dado que a obra esta em constante criação, e que a noção de autor perde força para a possibilidade da obra como matéria prima para outras construções, num ciclo contínuo.

Na educação, compreender a noção de cibercultura e ciberespaço é reconhecer que o saber institucionalizado dá lugar ao conhecimento constrúido por individuos no seu percurso individual e que este saber é disponibilisado a um coletivo que o reconstitui.A universidade e o professor não tem mais o papel de detentores e diseminadores do conhecimento, mas de agentes organizadores destes percursos individuais de produção.

Na terceira e ultima parte, as ideais de universalidade e desterritorialização são retomadas para discutir os problemas que o desenvolvimento do ciberespaço traz.Estes problemas surgem ,segundo o autor, quando são colocadadas em oposição a criação da inteligencia coletiva e os interesses de grupos políticos e economicos, ou quando são feitas críticas de problemas inerentes à sociedade que, para alguns se intensificam com o uso das redes.São questões com o controle e censura da informação, consumo , identidade cultural, , substuituição do real pelo virtual. Um a um o autor demonstra que, por um lado ,os problemas não são próprios da cibercultura , e por outro lado, o próprio ciberespaço se autoregula.O autor também demonstra que a hermeticiade de alguns setores aos benéficios que o ciberespaço no seu movimento de construção e interrelação contínua é injustificada, e que para além da crítica, este é um movimento que não surge, mas que continua as propostas iluministas de sec XVII.

O texto de Levy não é destinado a especialistas, mas a todos que querem entender as articulações do conhecimento que se produzem no ciberespaço.Por isso mesmo, é de leitura agradável , entremeado de exemplos e analogias .O autor, que inicialmente se diz um otimista, evidencia em que bases este otimismo se funda, ao demonstrar que, apesar dos problemas e mesmo em virtude deles, navegar é preciso.

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